terça-feira, 24 de março de 2009

Não importam as consequências, o bem deve sobreviver

Por que é tão difícil ser honesto? As pessoas têm se tornado disseminadoras e defensoras descaradas da corrupção. A barreira da incorruptibilidade quebrou-se. [Quase] todos estão agora imersos na desonestidade desmedida.
Queria acreditar que as pessoas não sabem ou não pensam mais no que estão fazendo, que elas simplesmente não analisam mais suas próprias ações. Mas isso seria iludir-me. O mundo ainda não está assim tão desprovido de consciência. Quer dizer, há consciência mais que suficiente para saber o que está errado, mas a cara de pau e a falta de outro tipo de consciência (mais crítica, mais humana) não permitem que esse ciclo vicioso de maldade tenha um fim.
Os caracteres são maleáveis como plástico. Moldáveis. A firmeza de espírito e de princípios deixou de existir. A população é manipulada e se deixa manipular por pessoas igualmente desonestas. No final, todos são farinha do mesmíssimo saco: tanto os que se deixam corromper, quanto os corruptores. A cara lavada e a falta de tudo que deveria existir numa pessoa correta, são características presentes em ambos os casos.
Parece que se perdeu a vergonha. Todos se tornaram verdadeiros “sem vergonha”, sem moral, sem o mínimo de qualquer coisa aproveitável. A decepção foi grande quando vi um amigo que admirava muito furando fila como tantos outros. “Mas não é algo tão [asquerosamente] normal?” Não o admiro mais.
Mas por que é tão difícil ser honesto? A honestidade está (ou deveria estar) incluída nos valores primordiais da humanidade. É algo básico, simples, que poderia ser facilmente seguido por todos (bastaria querer). Alega-se: “As pessoas se deixam levar pelas demais, o mundo já é uma bola de corrupção, portanto, entre no ritmo, ou exclua-se da sociedade.” No entanto, bastaria a cada um o mínimo de consciência social, o menor pensamento livre de egoísmo, e o mais insignificante princípio de retidão moral para que tudo isso mudasse! As consequências não deveriam importar, mas sim a atitude de dizer “basta”, de quebrar a cadeia.
Não creio que alguém possa ser totalmente desprovido de qualquer um dos valores acima citados. O que falta é a prática e a criticidade; a vergonha na cara mesmo. Contudo, ainda há remanescentes de honestidade espalhados por aí. Isso me alegra e, ao mesmo tempo, desperta um imenso e profundo sentimento de revolta e indignação contra a corrupção. Acho que os incorruptíveis deveriam se rebelar louca e friamente contra os trapaceiros. Não deixá-los ganhar mais espaço. Tirar das filas os furadores, denunciar, falar, combater. Rasgar o saco de farinha ruim para que ela possa se misturar à pouca farinha boa ainda restante e, assim, possa ser reutilizada.
Não deixemos morrer os bons princípios de moralidade. Tenhamos coragem. Já diz Oswaldo Montenegro em Metade: “Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca”. Então vamos à luta.